Tectônica e sedimentação do Pré-sal da Bacia de Santos
Sinopse
A Bacia de Santos foi formada durante o rifteamento Eocretáceo do Gondwana Ocidental, com sua história de preenchimento iniciada a partir dos registros de rochas vulcânicas basálticas das sequências K20-K34 (Fm. Camboriú), relacionadas ao magmatismo da Large Igneous Province (LIP) Paraná-Etendeka. Esse magmatismo foi controlado por falhamentos distensivos orientados N-NE a NE e grabens orientados N-NW a NW, direções associadas aos enxames de diques. Esse estilo deformacional é característico da fase Rifte I, penecontemporânea ao vulcanismo inicial e marcada pela implantação de grabens assimétricos preenchidos por espessos pacotes de conglomerados, arenitos e folhelhos talco-estevensíticos lacustres da Sequência K36 (Fm. Piçarras), além de derrames basálticos. A deposição da Sequência K36 foi condicionada por falhamentos distensivos de direções N-NE a NW, segmentados por zonas de transferência e acomodação NW-SE. Sobrejacente à Sequência K36, depositou-se a Sequência K38 (Fm. Itapema) em marcante discordância angular (Discordância Pré-Jiquiá – DPJ), hiato que marca a passagem para a fase Rifte II, posicionada durante a deposição da Sequência K38. Esta sequência é composta por grainstones e rudstones bioclásticos intercalados com folhelhos geradores escuros ricos em matéria orgânica, depositados em ambiente lacustre com afinidade hidroquímica continental. Variações nas condições ambientais e tectônicas controlaram a deposição da Sequência K38. A elevada produtividade de bivalves após a DPJ gerou depósitos em um padrão progradacional, controlados pela atividade das falhas e pela disponibilidade de espaço de acomodação. Localmente, com a diminuição progressiva na atividade das falhas e a mudança no padrão de deposição das sequências, observam-se feições de crescimento de seção discretas, com padrão de preenchimento agradacional. A atividade do Rifte I condicionou o início da formação de feições, como o Alto Externo e o “S” de Santos. Em discordância (Discordância Pré-Alagoas - DPA) sobre a Sequência K38, depositaram-se os carbonatos da Sequência K44 (Fm. Barra Velha) em fase de baixa atividade tectônica por falhamentos, com padrão agradacional e transgressivo, evidenciando alterações nas condições ambientais e marcante expansão da área de deposição dos lagos do Pré-sal. Dados isotópicos, petrográficos e fossilíferos confirmam essa mudança nas características dos lagos, inicialmente mais confinados, passando para lagos progressivamente com águas mais alcalinas e intensa evaporação, favorecendo a extinção dos bivalves. Nesta época, o preenchimento das bacias assumiu geometria do tipo sag basin. Esta mudança caracteriza a fase Rifte II, quando a reativação tectônica nas porções internas da bacia foi síncrona à deposição das sequências carbonáticas (K46-K48, Fm. Barra Velha) e salífera (K50, Fm. Ariri), modificando o paleorrelevo e condicionando a sedimentação. A deposição apresenta um padrão progradacional e regressivo marcado pelas clinoformas de grainstones que migraram a partir de altos deposicionais. O topo da seção carbonática, denominado informalmente de Marco Lula, caracteriza-se por uma sequência homogênea com espessura de aproximadamente 30 m, constituído pela alternância entre fácies laminitos e fácies grainstones, ambas com frequentes feições de exposição subaérea. Zonas de transferência E-NE interbacinais sinistrais e reativação das direções N-NW com cinemática destral, associada a encurtamento discreto na direção N-NE e estiramento E-SE, bem como vulcanismo e hidrotermalismo tardio, relacionam-se à fase Rifte II. A atividade de falhas de detachment relacionadas à gênese de estruturas do tipo core complexes também compõe este quadro evolutivo final. Além disso, aponta para a persistência da atividade tectônica do rifteamento formador e deformador da Bacia de Santos, antes, durante e após a deposição do sal da Sequência K50, lançando luz na compreensão desta importante província do Pré-sal da margem sudeste brasileira.